sábado, 8 de março de 2014

Dirigir pessoas

É uma coisa bastante complicada.

Quando decidi que queria ter a fotografia como profissão, um dos primeiros ramos que quis seguir foi o de fotografia de moda. Mas aí depois de algumas experiências tentando dirigir gente eu mudei completamente de ideia. Achava complicado explicar as poses, dizer o que fazer, como fazer, lidar com as personalidades. Eu não conseguia lidar com minha própria personalidade, como que ia lidar com a dos outros? Porque direção de pessoas não tem uma técnica exata para você seguir e pronto. É contato humano, envolvimento, sentimento (e até a falta dele também). E junto disso tudo, eu tava despertando um lado meu mais artístico e fã das coisas espontâneas e naturais. Pegando aversão a poses ensaiadas e forçadas. Então juntando o lado psicológico, o preconceito e a falta de conhecimento de estúdio (que gera medo e preconceito também), desisti dessa vida de lidar com gente na fotografia. Não queria nem ouvir falar. Vou fotografar paisagens, animais, produtos, pra sempre.

Só que não é bem assim que a banda toca, né?

Comecei a me empenhar na profissionalização e é praticamente obrigatório (não queria usar essa palavra, mas é a melhor que consigo pensar agora) lidar com gente. Daniel, meu sábio professor, sempre fala: "Tem que começar pelo básico, sempre. Não tem como pular essa etapa não importa o que você vá fazer depois.". E galera, isso é a mais pura verdade. Se você quer seguir a fotografia como profissão mesmo, tem que começar com o tradicional, clássico, foto de noivos, aniversariantes, gestantes, modelos. E tem que fazer isso da forma clássica também, inicialmente, até você ter reconhecimento e conhecimento o suficiente para deixar sua criatividade fluir livremente. E aí eu pensei "puts, me ferrei.". Fiz sessões com Thais, Manu, Kaka, Gabi, Bruno, e acho que todos eles viram a dificuldade em fluir com as fotos. Não sabia quais poses fazer, como explicar, enganchava tudo. E olhe que eram meus amigos! Gente que eu tenho intimidade e liberdade para fazer o que quero, e já foi difícil! E aí eu fiquei me questionando se isso era mesmo para mim... 

Eis que surgiu o Curso de Direção de Pessoas para Fotografia do Studio D e eu fui. O começo foi uma M E R D A. Eu tava uma merda psicologicamente. E como dirigir gente é lidar com sentimento, eu não conseguia sair do meu mundinho obscuro e encarar as sessões direito. Minhas primeiras fotos foram um desastre. Pensei até em desistir do curso no meio do caminho porque vi que não tinha nenhuma regra, nenhuma técnica escrita em livros que iria facilitar aquilo para mim. TER ATÉ TEM. Várias, incontáveis aulas, livros, workshops, tudo. Mas nenhuma vai se aplicar 100% a você porque você não é igual a quem escreveu aquilo. E como eu sou estranha mesmo, aí é que eu não via luz no fim do túnel de jeito nenhum. Porque gente, dirigir pessoas é ter segurança: do seu equipamento, do local (seja externa ou estúdio), do conceito da sessão, da sua criatividade, e de si mesmo (que é o mais importante). Passar essa segurança para quem você for fotografar, fazer aquela pessoa relaxar. Observar a pessoa, tentar entender naquele pouco tempo quem ela é e como você pode lidar com ela. Não tem regra de "um bom diretor de cena para fotografia tem que ser criativo, descontraído, comunicativo, sério, palhaço, padre, ator, etc". Você tem que ser o que aquela pessoa na sua frente precisa que você seja, o que o conceito tirado no briefing precisa que você seja, o que o seu equipamento e locação precisam que você seja naquele momento. E isso, óbvio, tem que vir de dentro de você. 

E isso, meus bens, só com prática, experiência, paciência, meditação, referencias, conversas... Claro, tem algumas dicas básicas que ajudam, como manter um rítimo, não ficar parando a sessão para olhar as fotos no fundo da câmera... Mas aí eu não vou falar aqui, porque se vocês quiserem saber, façam o curso com Daniel (momento propaganda ahuehuae). As coisas que ele me ensinou durante o curso de direção de pessoas foram de extrema importância para minha segurança técnica e profissional. Mas eu te digo: dirigir gente é uma jornada íntima e pessoal. É você se descobrir e se dominar para descobrir e dominar o outro de um jeito que todos saiam satisfeitos no final. 

E falando em satisfação, AH MEU DEUS! Quanta satisfação eu tive depois que consegui dominar um mínimo do assunto. Eu vi que os ensaios PODEM E DEVEM ser espontâneos, sem poses forçadas. Eu posso colocar toda a naturalidade e espontaneidade que eu tanto gosto, nas fotos. Posso provocar movimentos, sorrisos, momentos, que deixam tudo mais mágico. Nossa, me senti tão bem sabendo que eu fiz outra pessoa se sentir bem e abrir aquele sorrisão sincero e lindo! Eu chegava em casa e ia tratar aquelas fotos das modelos se sentindo lindas e poderosas, com os sorrisos radiantes, e depois de entregar tudo pronto para elas, recebia elogios e mais elogios, agradecimentos por momentos tão divertidos e fotos que levantaram tanto a auto-estima. TE DIGO: NÃO TEM SENSAÇÃO MAIS GRATIFICANTE QUE ESSA. 

Fotografia é magia, é amor. E agora eu amo dirigir pessoas, porque me lembra da minha capacidade de fazer bem aos outros :)

Yes, nós temos fotos!!!

Mariana Santana

Claudilania Santana

Mel Carvalho

Mel Carvalho

Emylle Leão

Arabela Telles

João Paulo Andrade


Essas foram algumas das minhas favoritas, e eu simplesmente amei trabalhar com esses lindos ♥

Próximo post vai ser sobre o casamento e o batizado que fotografei, e depois tem sobre o workshop que eu dei ontem que foi maravilhoso! Muitas ideias, muitas experiências para compartilhar, e muita preguiça para exorcizar desse corpo.

Até a próxima!



2 comentários:

  1. TB achei o curso muito legal. Entrei no curso querendo tapar o maior abismo que tinha no meu conhecimento, e descobri que o abismo eh muito maior. No entanto, conheci o meu abismo, e isso me deu muito mais segurança.

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  2. DIREÇÃO DE PESSOAS - ENCONTRO, ENTREGA E NOVAS DESCOBERTAS:
    Na fotografia, a direção de pessoas é um encontro e uma entrega que fazemos a nós mesmos, nos permitimos ser nós mesmos enquanto clicamos outra pessoa geralmente se sentindo nua, desprotegida e tímida diante de uma teleobjetiva indiscreta. Os primeiros cliques, sempre desconsertados dos alunos me faz pensar que nossa aula é antes um sessão terapêutica que uma aula de técnicas de direção. Nem sempre o resultado das fotos saem a contento, mas, às vezes, o maior resultado é o aluno entender a minha proposta de ensino que não é fazer fotos perfeitas durante a aula, mas saber o caminho das fotos perfeitas (que talvez nunca faça) através do auto-conhecimento.

    FELIZZZZZ

    Daniel Barboza
    www.danielbarboza.com.br

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